Decembre 2023 | NO 12

MARKET INSIGHT – Decembre 2023

MARKET INSIGHT

análise mensal da Prime Partners SOBRE A ACTUALIDADE económica e dos mercados financeiros MUNDIAIS.

Um mês de novembro fantástico!

Após um trimestre de recuo dos mercados acionistas e a chegada do outono na Europa, sem dúvida que os investidores começaram a sentir um certo pessimismo. O ano de 2023 parecia aparentar um raio de esperança e o desempenho das alocações equilibradas começava a perder altura. Mas isto sem ter em conta uma recuperação inesperadamente forte em novembro, tanto nos mercados acionistas como nos mercados obrigacionistas, com desempenhos mensais que, em certos casos, atingiram máximos de décadas, em especial, no caso das obrigações dos EUA.

Designadamente, as últimas divulgações económicas promoveram o otimismo entre os investidores, especialmente, nos Estados Unidos. Os dados relativos à inflação, ao consumo e ao crescimento apontam para que o banco central dos EUA se encontra num processo de aterragem suave. Por outras palavras, de momento, Jerome Powell e a sua equipa estão a conseguir combater a inflação com eficácia sem provocar demasiados danos no crescimento económico do país e aos consumidores. Foi tudo o que os mercados financeiros precisaram para lançar uma grande recuperação e ficarem mais otimistas no que respeita à capacidade das economias para saírem «por cima» da onda de inflação pós-Covid.

2023 serve para trazer à colação um princípio chave do investimento a longo prazo: manter o investimento. De facto, este ano, foi imperativo não perder os meses de janeiro e novembro, sob pena de perder uma parte significativa do aumento nos índices de ações. A recente subida destes índices teve igualmente o mérito de começar a «reequilibrar» a balança entre os grandes valores tecnológicos americanos, atualmente designados por «Mag 7», e o resto do mercado. A diferença de comportamento entre estes gigantes tecnológicos, entendidos pelos operadores como vencedores imediatos do advento da inteligência artificial, e a maioria dos restantes setores continua a ser considerável, embora o otimismo renovado geral sobre a conjuntura económica dos próximos trimestres e, logicamente, a futura atitude dos bancos centrais terá levado a uma participação ligeiramente mais ampla na recuperação durante o mês de novembro.

Das últimas estatísticas americanas decorrem diversas lições: a inflação, calculada pelo índice IPC, recuou consideravelmente em 2023, tal como a sua componente subjacente, que a Reserva Federal vigia de perto. Paralelamente, a economia americana apresenta-se ainda mais resistente do que o previsto, com um crescimento do PIB de 5,2 % no 3.º trimestre. Por último, o consumidor americano, verdadeiro pilar da economia, continua a gastar dinheiro. O seu poder de compra mantém-se inalterado, ou até melhor do que antes da pandemia, graças, em especial, aos aumentos salariais recebidos nos últimos trimestres e à inflação que recuou nos últimos meses.

É indubitável que a política orçamental expansionista aplicada do outro lado do Atlântico explica em parte a solidez da economia americana. Em termos mais gerais, não pretendemos cair na atual euforia, na qual nunca falta alguma exuberância por parte dos operadores.

A situação geopolítica registou poucas alterações e continua a ser profundamente negativa. É certo que a situação espoletada no Médio Oriente após o atentado do Hamas no início de outubro e a resposta militar israelita que se lhe seguiu não parece estar na ordem do dia. Tampouco o é uma solução pacífica na região, onde, não obstante a recente trégua e a troca de reféns por prisioneiros, o fim da ofensiva do Estado israelita não parece estar iminente.

Além disso, não há sinais de melhoria na frente russo-ucraniana, onde o conflito parece que vai prolongar-se sem nenhum resultado diplomático real nem vitória militar importante para nenhuma das partes.

É indubitável que a política orçamental expansionista aplicada do outro lado do Atlântico explica em parte a solidez da economia americana

Além das questões de geopolítica, não perdemos de vista os desafios económicos e financeiros de 2024, que continuam a ser numerosos. Supondo, logicamente, que as boas notícias de novembro se confirmam nos próximos meses, com uma inflação controlada e um crescimento económico forte, as empresas começarão a enfrentar a «parede do refinanciamento», com um volume muito grande de vencimentos nos próximos quatro anos. Por conseguinte, muitas delas terão de fazer face a um custo de capital muito diferente ao do período anterior à Covid.

Neste ambiente menos favorável do que no passado, será dada uma atenção especial à evolução das margens e ao desempenho económico das empresas, especialmente daquelas com balanços frágeis.

Não devemos também esquecer os problemas bancários registados este ano nos Estados Unidos e as perdas não realizadas até à data por algumas grandes instituições financeiras nas suas carteiras de obrigações na senda da subida das taxas de juro e sua posterior manutenção em níveis elevados. Também neste caso se impõe prudência, porque, embora alguma normalização da situação pareça ser uma consequência lógica da evolução económica dos últimos meses, a história mostra-nos que um «acidente» pode acontecer rapidamente e sacudir o sistema bancário num curto espaço de tempo.

Além disso, 2024 será um ano eleitoral muito intenso, que culminará com a eleição do futuro Presidente dos Estados Unidos. A história demonstrou que este tipo de acontecimentos costuma ser favorável às ações americanas e muitas das promessas eleitorais vão, sem dúvida, suscitar algum otimismo. No entanto, será necessário estar atentos ao desenvolvimento da próxima campanha e a um eventual ressurgimento da divisão entre «trumpistas» e democratas nos Estados Unidos, onde o assalto ao Capitólio no início de 2021 continua a ser uma lembrança inquietante.

Finalmente, no que respeita à União Europeia, além da falta de agilidade estrutural no domínio de política económica comum e para além da trajetória futura da inflação e do crescimento no velho continente (que consideramos ser semelhante ao dos Estados Unidos), é também a prossecução da procura de uma maior independência energética e da redução do fosso na corrida tecnológica com os Estados Unidos o que os mercados acionistas poderão acompanhar de perto nos próximos trimestres.

O mês de novembro enviou fortes sinais económicos positivos aos investidores que reagiram de imediato.

Neste contexto, as nossas alocações beneficiaram em muito desta evolução, tanto pela subida das ações como das obrigações.

Continuamos a adotar uma abordagem prudente e mantemos a nossa subponderação em ações face à ponderação neutra dos nossos índices de referência. Esta subponderação não nos penalizou em nada este ano, graças aos excelentes resultados das nossas equipas de gestão ativa selecionadas e de certas estratégias temáticas, designadamente, a estratégia tecnológica.

Além disso, os nossos investimentos em obrigações convertíveis e num produto que aplica uma estratégia ativa de ações «long/short» acabaram por reforçar a exposição efetiva das nossas alocações em ações.

O mês de novembro enviou fortes sinais económicos positivos aos investidores que reagiram de imediato

No que se refere à parte das obrigações das nossas carteiras, a abordagem «core/satellite» obteve bons resultados durante o mês passado e, de forma mais geral, ao longo do ano.

Os gestores ativos selecionados em segmentos especializados (alto rendimento, empréstimos prioritários ou obrigações «long/short») registaram um mês de novembro muito positivo, facto que permitiu que as nossas alocações dependessem menos do comportamento das ações em 2023.

Por fim, é difícil não referir o prosseguimento da forte recuperação do ouro em novembro, num contexto de descida das taxas de juro que favoreceu o metal amarelo.

Concluímos o ano acrescentando uma linha de obrigações do Tesouro americano a 20 anos, com a esperança de que no próximo ano, segundo o nosso cenário central, haja uma descida das taxas de juro, de que este instrumento beneficiaria totalmente.

Ao entrarmos no último mês do ano, com o período festivo a reduzir os volumes das últimas duas semanas, viramo-nos para 2024, mantendo a abordagem prudente que nos permitiu ter um desempenho tão positivo este ano.

A procura de desempenho nas diversas categorias de ativos das nossas alocações continua a ser a nossa prioridade para os próximos trimestres, e continuamos a ter plena consciência de que uma aterragem suave das economias após o pico de inflação de 2022 não está totalmente garantida no próximo ano, apesar de parecer cada vez mais provável.

Umas últimas palavras sobre o recente falecimento de Charlie Munger, cofundador da Berkshire Hathaway e mão direita de Warren Buffet, cujo implacável sentido comum no momento de investir (e humor em muitos dos seus discursos) sublinha uma vez mais a importância fundamental de se investir com cabeça fria e a longo prazo.