MAIO 2023 | NO 5

MARKET INSIGHT – Maio 2023

MARKET INSIGHT

Análise mensal da Prime Partners sobre a atualidade económica e financeira mundial.

Um mês de abril por um fio… que não quebra

Em abril, houve uma grande abundância de notícias económicas e financeiras. O arranque da época de divulgação de resultados, a aquisição com desconto do First Republic Bank pelo JP Morgan, a esperança de eventuais conversações de paz na Ucrânia (sob a «benevolência» do Presidente chinês) e, claro, todo um conjunto de indicadores para medir a atividade económica e os progressos na luta contra a inflação. Os mercados financeiros analisaram todos estes elementos (entre outros).  Paradoxalmente, estas notícias repletas de pistas potenciais sobre o rumo da economia tiveram um impacto reduzido nos mercados bolsistas, que, no seu conjunto, se mantiveram estáveis ou com um desempenho positivo ligeiro durante o mês, apesar de terem apresentado alguns sobressaltos em matéria de volatilidade a que nos habituámos nos últimos três anos e depois da chegada da pandemia.

Após um primeiro trimestre positivo nos mercados financeiros e apesar de algumas preocupações que já referimos no mês passado, abril não apresentou uma grande visibilidade. Dito isto, há novos elementos concretos a considerar na avaliação do nosso cenário económico e financeiro para os próximos trimestres. Em primeiro lugar, embora o período de divulgação de resultados das empresas esteja a decorrer, podemos desde já afastar a ideia de divulgações muito dececionantes que teriam constituído uma surpresa negativa para os operadores. Na realidade, sem ser um caso excecional e ignorando os anúncios por vezes demasiado otimistas por parte de alguns meios de comunicação social, podemos afirmar que a qualidade global dos resultados das empresas no 1.º trimestre é até agora satisfatória e não revela que esteja em curso um forte abrandamento económico.

Verifica-se o mesmo no que respeita à situação macroeconómica, em que os diferentes indicadores divulgados em abril deixam poucas dúvidas no que respeita à atual configuração da economia mundial. Não devemos sonhar com o crescimento futuro, nem tampouco devemos entrar em pânico relativamente a um abrandamento acentuado ou de uma «aterragem dura». Na realidade, os índices PMI da indústria transformadora estão atualmente longe dos seus níveis anteriores à Covid e apresentam um certo abrandamento. Em contrapartida, a componente de «serviços» destes mesmos índices mantém-se sólida e proporciona uma imagem global que é diversa do das economias que vão diretamente para uma recessão dolorosa.

 Não devemos sonhar com o crescimento futuro, nem tampouco devemos entrar em pânico relativamente a um abrandamento acentuado ou de uma «aterragem dura»

No que respeita à inflação, quase que poderíamos ser levados a acreditar que tudo está a correr bem e que começamos a ultrapassar o problema… No entanto, o índice «inflação subjacente», muito apreciado pela FED, não está a registar um abrandamento tão rápido quanto esperado. Devemos desconfiar desta conclusão, porque nos parece um pouco precipitada nesta fase. Sem dúvida que a tendência para um abrandamento está, na realidade, em curso. Porém, é importante o efeito de base dos valores da inflação agora divulgados. Na realidade, é o indicador que abrange a energia e a alimentação que beneficia de um efeito de base positivo (IPC), designadamente, devido ao nível muito elevado dos preços da energia desde há um ano, após o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Recentemente, utilizou-se o termo «greedflation» para designar a empresas que conseguiram repercutir grandes aumentos de preços nos seus clientes, apesar de, nesta fase, não terem planos para baixá-los, porque não se registou uma deterioração das suas vendas. Embora a descida dos custos da energia, em particular do petróleo e do gás, seja forte (após um pico em 2022), torna-se evidente que o mecanismo de fixação dos preços, de momento, não está a funcionar em baixa. Face à redução da fatura energética, parece que prevaleceu a ganância relativamente a uma eventual descida dos preços.

Por último, no âmbito das questões geopolíticas, continuamos a ser humildes no que respeita à nossa capacidade de prever o futuro em assuntos tão complexos como o conflito na Ucrânia ou a evolução das tensões entre a China e Taiwan. Não esqueçamos que, globalmente, a geopolítica atual não serve para sustentar os mercados financeiros e que, sem participar nos comentários sobre o advento de uma nova ordem mundial, não nos é possível apostar de forma decente nela como catalisador dos índices bolsistas para os próximos trimestres.

Por isso, os elementos relatados até à data não nos levaram a alterar as nossas alocações em abril. Estas mantêm-se próximas das ponderações «neutras» dos nossos índices de referência e optámos por conservar uma ligeira subponderação em ações.

A nossa interpretação dos indicadores económicos divulgados em abril, assim como dos resultados das empresas divulgados durante o mês, não acrescentou certezas quanto à evolução dos índices bolsistas, designadamente, das ações, no futuro próximo. Esta interpretação parece ter sido muito partilhada pelos operadores, com desempenhos equilibrados ou ligeiramente positivos no último mês, sem uma tendência clara, ao contrário do que aconteceu em janeiro ou fevereiro.

Longe de se considerar negativa, esta evolução ligeira das bolsas pode até ser muito tranquilizadora e parece estar em sintonia com os sinais contraditórios relativos à atividade e à fase do ciclo económico em que nos encontramos.

No entanto, torna-se tentador ver o copo meio cheio e apostar num cenário de «sem aterragem» em que a temida recessão, não sendo nem pequena nem grande, simplesmente não acontece. Nesta hipótese, elementos como o provável fim iminente do processo monetário restritivo da FED, a evolução em baixa do dólar nos últimos meses, favorável às ações emergentes e historicamente bastante favorável às ações norte-americanas, ou os resultados do primeiro trimestre divulgados pela maioria das mega capitalizações bolsistas do setor tecnológico, assim como os valores vertiginosos do segmento do segmento do luxo, são argumentos normalmente apresentados para justificar a continuação da recuperação das ações este ano.

Porém, ser tão otimista levaria a omitir outros elementos que não pretendemos pôr de lado. Evidentemente que o primeiro deles é a situação do setor bancário norte-americano que, depois de duas falências, acaba de registar a recuperação (o resgate…) do First Republic Bank, cujos resultados divulgados recentemente revelaram a dimensão dos levantamentos das últimas semanas, fazendo cair a cotação das ações para perto de 3 dólares face aos 150 dólares de há um ano. Embora constitua um alívio, trata-se de um sinal pouco encorajador para a saúde do setor.

Mesmo que o fenómeno de contágio aos principais bancos americanos, designado por «sistémico», não pareça estar em perspetiva, a rapidez com que a perda de confiança pode ocorrer não pode deixar de nos incentivar a adotar uma abordagem cautelosa.

Uma segunda razão para ver-se o copo meio vazio assenta na evolução futura da inflação, cuja descida nos últimos meses não garante que este processo se mantenha. Existe um consenso bastante alargado, que partilhamos, de que os bancos centrais executaram a parte «fácil» da sua missão de fazer regressar a taxa anual de aumento geral dos preços ao objetivo de 2 % e que os próximos trimestres não serão necessariamente tão bem-sucedidos se as subidas das taxas forem interrompidas no início do verão.

Mantemo-nos prudentemente otimistas para os próximos meses e isso é refletido na nossa alocação de ativos

Por fim, não podemos ignorar totalmente um cenário em que o processo monetário restritivo muito rápido dos últimos trimestres acabe por provocar uma contração acentuada da atividade económica e em que os primeiros sinais dessa contração apareçam já por intermédio de certos indicadores (PMI da indústria transformadora, preços de certas matérias-primas ou vendas a retalho corrigidas pela inflação). Neste contexto, o efeito «frasco de ketchup» teria finalmente tido lugar, com a FED a bater na base do frasco com repetidas subidas de taxas, provocando, por fim, um abrandamento súbito e excessivo da atividade económica.

Embora esta hipótese não faça parte do nosso cenário central, isso não nos impede de tê-la em consideração.

Em conclusão, a nossa análise relativa a abril tem poucas diferenças relativamente à do mês passado, porque os mercados não encontraram realmente uma direção nas últimas semanas. Mantemo-nos otimistas com prudência para os próximos meses e isso é refletido na nossa alocação de ativos. O facto de não alterarmos a ponderação da nossa exposição a diferentes classes de ativos não nos deve impedir de ajustar a composição das nossas carteiras. Deste modo, no âmbito da substituição de dois veículos detidos durante vários trimestres, optámos por introduzir um produto ativo de curta duração sobre obrigações de empresas emergentes denominadas em dólares.  Paralelamente, integramos um ETF sobre o setor dos bens de consumo corrente, cujos principais atores deverão continuar a beneficiar no futuro dos aumentos de preços aplicados aos seus clientes nos últimos trimestres, sem que, no entanto, o seu volume de vendas diminua.

Mais do que nunca, as nossas alocações nas próximas semanas vão depender da nossa capacidade tática e de uma certa dose de frieza. O nervosismo dos investidores traduz uma certa vulnerabilidade das nossas economias, embora não vejamos esse aspeto como uma promessa de um abrandamento económico conjuntural acentuado e, por conseguinte, de uma queda das avaliações atuais.