OUTUBRO 2023 | NO 10

MARKET INSIGHT – Outubro 2023

MARKET INSIGHT

análise mensal da Prime Partners SOBRE A ACTUALIDADE económica e dos mercados financeiros MUNDIAIS.

Um mês de setembro fiel à sua reputação.

Assim, o verão da bolsa de 2023 terminou e apresentou aos investidores duas faces muito diferentes. Foram dois meses de subidas iniciais, junho e julho, embalados pelo otimismo relativamente à atitude futura dos bancos centrais e às futuras reduções de taxas em 2024, seguidos de um certo regresso à razão por parte dos investidores, inevitavelmente dececionados com a pausa muito «hawkish» na política da FED como Jerome Powell descreveu a 20 de setembro.

Sem nenhuma surpresa, este ajuste do estado de espírito geral dos mercados financeiros foi acompanhado por maiores incertezas relativamente à dimensão do abrandamento económico em que já entrámos. «Soft landing» ou não, parece que muitos operadores passaram a questionar-se mais do que há algumas semanas, independentemente de se tratar do estado da economia alemã, da situação na China ou ainda de certos indicadores americanos (incumprimentos dos cartões de crédito, aumento das falências das empresas ou, ainda, aumento dos roubos nas lojas, assinalado pelas grandes superfícies).

Até aqui (ainda) está tudo bem, poder-se-ia afirmar, e a questão que se coloca agora é sabermos se estamos no início de uma quebra acentuada da atividade ou se os atuais sinais de enfraquecimento são apenas passageiros e, em última análise, coincidentes com a narrativa de uma aterragem suave das economias após longos trimestres a combater a inflação.

Independentemente de se tratar de finanças ou de outros assuntos da vida, com frequência, a nossa natureza leva-nos a dizer a nós próprios que tudo vai correr bem logo que somos confrontados com provações. Com a concretização das referidas provações, a dúvida é um sentimento normal e, na maior parte das vezes, permite-nos tomar decisões mais ponderadas.

Parece que os mercados financeiros se encontram nessa fase. O abrandamento económico não é, de forma alguma, surpreendente e começa a concretizar-se após meses de uma resiliência muito mais acentuada do que a esperada, em especial, na economia americana.

Porém, a retórica dos bancos centrais mantém-se inalterada e a luta contra a inflação está longe de terminada. Assim, os operadores de mercado devem agora ajustar as suas carteiras a uma conjuntura em que as taxas de juro vão ficar altas durante muito tempo e a uma inflação mais alta do que nos últimos quinze anos.

É sem surpresa que se vê que a velocidade e a rapidez dos referidos ajustes estão a revelar-se fatores de perturbação, dando azo a erros clássicos de alocação de ativos que temos de evitar.

Os títulos alarmantes da imprensa financeira e as previsões por vezes cataclísmicas dos principais gestores de ativos e economistas não nos devem distrair do nosso cenário central relativo à economia dos EUA em 2023.

Até ao fim do ano, não se prevê nenhuma recessão até ao fim do ano nos EUA. A forte pujança do setor tecnológico e a «Inflation Reduction Act» constituem bases sólidas e não consideramos que o atual abrandamento seja suficiente para contrariá-las. 

Consideramos que a situação na Europa continua a ser muito idêntica, apesar de atrasada face à sua congénere americana, sendo que o BCE a ficou atrás da FED.  Não prevemos que as economias do velho continente venham a registar uma catástrofe, embora consideremos que o abrandamento será mais acentuado do que nos Estados Unidos. Desde há dezoito meses que o conflito ucraniano obriga os países europeus a levarem a cabo uma transição rápida para um novo mix energético e novas fontes de abastecimento.

Paralelamente, a importância dos setores industriais (designadamente, o setor automóvel) e a preponderância dos bens de luxo europeus (por sua vez confrontados com a ausência de uma retoma chinesa) contrastam com a estrutura da economia americana.

Por último, não é necessário relembrar que, para além dos pontos fortes e fracos de cada setor, os consumidores europeus poupam mais do que os seus homólogos americanos, resultando desse facto uma economia menos ágil e com dinâmicas diferentes.

A forte pujança do setor tecnológico e a «Inflation Reduction Act» constituem bases sólidas 

E quanto ao posicionamento das nossas carteiras para o que vem a seguir?

Conforme referido anteriormente, não estamos a ser influenciados pelo pânico, apesar de o mês de setembro ter sido complicado no campo das ações, cujo índice global (MSCI All Countries) terá regressado ao seu nível do início de junho. O desempenho das ações nos últimos três meses acabaram finalmente por cair, tanto nos Estados Unidos como na Europa e também nos mercados emergentes, em que a reabertura da China não passou de uma miragem até ao presente.

Paralelamente, verificamos que o índice S&P 500 com igual ponderação está agora próximo de uma rendibilidade nula em 2023, o que põe em relevo que é sobretudo o motor tecnológico norte-americano que fez a bolsa subir este ano.

Face à atual conjuntura económica e às nossas expectativas para o fim do ano, isso não é surpreendente.

Os resultados do primeiro semestre de 2023 publicados pelas empresas não demonstraram nada uma debilidade excessiva e, inclusivamente na sua maior parte, acabaram por dissipar os receios.

No entanto, as mensagens transmitidas pelos dirigentes continuam em geral prudentes em resultado das muitas incertezas dos próximos meses. Apenas as empresas que beneficiam do aparecimento da inteligência artificial se apresentaram claramente entusiasmadas face aos próximos trimestres, com destaque para os produtores de semicondutores. Também neste caso, os resultados dos últimos meses têm alguma lógica A atual conjuntura diz-nos para que continuemos a ser prudentes relativamente às ações sem, no entanto, proceder a desinvestimentos. Continuamos a privilegiar os mercados desenvolvidos e a insistir numa boa diversificação setorial, sendo que os nossos favoritos continuam a ser os setores da tecnologia, seguros e saúde.

Os resultados publicados pelas empresas no 1.º semestre não demonstraram nada uma debilidade excessiva e, inclusivamente na sua maior parte, acabaram por dissipar os receios

No que concerne às obrigações, a recente subida das taxas de juro nos EUA a 10 anos para níveis que não se viam há mais de 15 anos leva-nos ainda mais a considerar este ativo como um investimento preferencial para os próximos trimestres.

Paralelamente, a extremidade muito curta da curva de rendimentos torna muito atrativas as obrigações do Estado e de empresas a curto prazo. Neste segmento, apostamos nas que apresentam notações sólidas, designadamente, nos vencimentos longos.

Por último, atualmente «cash is king», não em resultado de uma conjuntura negativa, mas porque os rendimentos dos fundos do mercado monetário, designadamente em dólares, estão a ultrapassar a maioria dos rendimentos das obrigações, sem criar volatilidade ou risco para os investidores.

Por certo, não nos esquecemos da bolsa alternativa das nossas alocações, em que estratégias «long/short» que mantemos desempenham um papel importante para contribuir de forma positiva para o rendimento dos nossos mandatos, ao mesmo tempo que proporcionam uma descorrelação acentuada com os mercados de ações.

Continuamos a considerar o ouro um investimento com um potencial intacto, face à redução da pujança do dólar americano (promovida pelo atual diferencial das taxas de juros a favor dos Estados Unidos) e a atratividade da dívida pública norte-americana. Em ambos os casos, isso passará por uma alteração da posição da Reserva Federal.

Os mercados estão a entrar no último trimestre do ano civil que, em geral, é sinónimo de esperança para os investidores, que rezam por uma recuperação no fim do ano, após o mês de setembro que causa tantos temores.

Damos pouca importância a estes aspetos de sazonalidade histórica do desempenho das ações, preferindo sobretudo manter as nossas alocações e adaptá-las de forma regular ao nosso cenário central da atividade económica.

O ano de 2023 deverá continuar a ser um ano de transição para o mundo desenvolvido, marcando o fim da política de endurecimento monetário aplicada pelos bancos centrais, antes de se iniciar um período de observação dos frutos das suas ações em 2024.