AGOSTO 2023 | NO 8

MARKET INSIGHT – Agosto 2023

MARKET INSIGHT

análise mensal da Prime Partners SOBRE A ACTUALIDADE económica e dos mercados financeiros MUNDIAIS.

Os operadores estão numa encruzilhada

Em muitos aspetos, o mês de julho assemelha-se aos seis meses anteriores do ano. Os mercados acionistas registaram uma subida, com os índices americanos, impulsionados ainda pelos grandes valores tecnológicos cuja excelente saúde confirmam os resultados do 2.º trimestre que já foram divulgados.

No plano puramente económico, os resultados nos Estados Unidos voltaram a desafiar numerosas previsões de abrandamento da atividade e obrigam agora os operadores a considerar pouco improvável o cenário de uma recessão iminente.

Por último, após uma nova subida de taxas de 0,25 % por parte do FED, grandemente antecipada pelos mercados, o fim da tendência altista das taxas de juros parece agora mais perto que nunca. O banco central norte-americano pode desde já congratular-se pelo trabalho que realizou, porque a inflação registou uma forte descida nos últimos meses nos Estados Unidos sem ter provocado uma desaceleração económica acentuada.

Na qualidade de investidor, é sempre perturbador não entender de facto a razão por que os mercados não seguem o cenário que parece lógico. Um bom exemplo é 2023, em especial nos Estados Unidos, em que a política restritiva do banco central nos levou, à semelhança de muitos outros investidores, a antecipar um ano de transição para os mercados financeiros, com desempenhos que, por certo, esperávamos que fossem positivos, mas não muito impressionantes. Volvidos sete meses, vemos que não é assim e que a colheita de 2023 para as ações está nesta fase muito melhor do que o esperado. Não é necessário repetir o que temos vindo a afirmar aqui nos últimos meses.

A subida das ações apresentou-se muitíssimo estreita, em especial, no caso dos EUA onde o entusiasmo com o setor tecnológico e os primeiros benefícios tangíveis nas carteiras de encomendas das empresas (lideradas pelos semicondutores) em consequência da utilização da inteligência artificial explicam grande parte do comportamento do S&P 500 e ainda mais o do Nasdaq.

Por seu turno, a Europa encontra-se logicamente um pouco atrasada face à sua homóloga norte-americana, porque os índices acionistas do velho continente dão prioridade aos setores menos tecnológicos. No entanto, apesar desta «debilidade» relativa, no início do ano poucos esperavam que o índice Stoxx 600 registasse ganhos próximos dos 14% no final de julho.

Assim, parece-nos que é importante reajustar um pouco o nosso cenário relativo às políticas monetárias, que influenciam de forma considerável todas as classes de ativos, como é possível ver em cada reunião dos bancos centrais e em cada discurso proferido por um deles.

Este ano, a economia americana não deverá registar uma recessão. O crescimento é muito, o mercado laboral continua apertado e o poder de compra do consumidor norte-americano começa a crescer novamente, com as subidas dos salários dos últimos trimestres que lhe permitem aumentar as suas despensas num contexto de recuo da inflação.

De momento, os setores relacionados com os serviços continuam a ter um ritmo satisfatório, em consequência do nível das taxas de juros. As subidas de preços não desencorajaram os consumidores, que preferem pagar mais por certas atividades de lazer que antes da Covid, ao mesmo tempo que reduzem a fatura de outras despesas se isso for necessário.

Por seu turno, a atividade industrial dos EUA continua em recessão, facto que demonstra que as condições financeiras restritivas impostas pela Reserva Federal estão de facto a ser sentidas pela economia real. O mesmo acontece na Europa, incluindo a Suíça, e na China. Todavia, é interessante referir que, em certos subsegmentos, estamos agora a assistir a uma consolidação e não a uma deterioração.

Na qualidade de investidor, é sempre perturbador não entender de facto a razão por que os mercados não seguem o cenário que parece lógico.  

Finalmente, deve referir-se que as empresas não desejam cometer o mesmo erro duas vezes, ajustando os seus efetivos demasiado depressa, com o risco de ter dificuldade em recrutar no espaço de alguns trimestres.

Embora a Europa tenha uma dinâmica semelhante, as proporções são diferentes. Os consumidores europeus favorecem igualmente certas despesas em detrimento de outras, em especial, o lazer, mas, entretanto, viram aumentar os seus salários menos que os seus homólogos norte-americanos no ano passado. O recuo da inflação é também muito real na Europa, pelo que o trabalho do BCE foi, nesta fase, bem-sucedido, embora esteja um pouco atrás da FED no que respeita à aplicação do seu plano de controlo de nível de preços, pelo facto de os aumentos salariais terem chegado mais tarde na Europa do que nos Estados Unidos.

A atividade industrial na Europa, que continua a ser chave para algumas economias da região (Alemanha, em especial), está claramente em recessão, enquanto os serviços estão certamente saudáveis, embora não consigam compensar a desaceleração da indústria fabril na mesma medida que nos Estados Unidos. Trata-se de uma diferença fundamental entre as situações norte-americana e europeia.

Convém acrescentar nesta comparação entre a Europa e os Estados Unidos os travões estruturais habituais no velho continente, onde as repercussões da política do BCE podem ser transmitidas a diferentes velocidades às economias dos Estados-Membros e levar a resultados muito diferentes. Finalmente, o apetite dos consumidores europeus é em geral menos acentuado que nos Estados Unidos, em especial no que se refere ao crédito. Por exemplo, os alemães poupam muito mais do que os habitantes do sul da Europa.

Entendemos muito bem, começa a parecer realista afirmar que a economia norte-americana se antecipou na corrida da «aterragem suave» posterior à crise, apesar de uma política monetária muito restritiva.

Por isso, há várias hipóteses que devem ser consideradas relativamente à segunda parte do ano. A primeira é que a inflação subjacente norte-americana continuará a recuar, em consonância com uma economia bastante forte. Neste contexto, esperamos que a Reserva Federal mantenha inalteradas as taxas de juros. Em contrapartida, as taxas poderão manter-se nos níveis atuais até à próxima primavera, porque a FED pretende ter a certeza do rumo da inflação, que continua a estar muito acima do seu objetivo de 2,0 %.

Por isso, parece-nos importante reajustar um pouco o nosso cenário relativamente aos bancos centrais e distinguir entre a dinâmica atual em ambos os lados do Atlântico.

Uma segunda hipótese está relacionada com a economia da zona euro, que parece que vai desacelerar de forma mais acentuada que no presente. Assim, devemos acompanhar de perto os dados económicos do outono, para calibrar se passamos sinais contraditórios de acordo com os dados de atividade claramente mais débeis e, em especial, mais homogéneos. A continuação da época de divulgação de resultados empresariais do segundo trimestre e, em especial, as «orientações» dadas por estas empresas serão observadas com especial atenção pelos operadores nos setores mais industriais da economia europeia. O banco central parece ter também presente este risco, daí a sua mensagem mais pragmática e menos dogmática no que respeita à sua futura política de taxas de juros.

Finalmente, continua a ser importante vigiar de perto a situação na China, onde a reabertura da economia não teve grandes repercussões e onde a doença parece agora ser mais profunda, para consternação das autoridades. Com uma taxa de desemprego de jovens muito alta e algumas medidas de apoio que, até ao presente, contaram com o impulso em grande medida do lado da oferta, a economia chinesa esforça-se por convencer os investidores de que está prestes a registar uma forte recuperação, enquanto noutros países emergentes, liderados pela Índia, dão mostras de um grande dinamismo.

As nossas alocações diversificadas beneficiaram da bonança dos mercados acionistas durante os primeiros sete meses do ano, com uma exposição especialmente boa aos valores tecnológicos norte-americanos. A componente de obrigações das nossas carteiras beneficiou também do bom comportamento de certos segmentos do mercado obrigacionista, como o alto rendimento ou ainda os convertíveis. Finalmente, a nossa carteira alternativa contribuiu também positivamente para o desempenho dos nossos mandatos, graças a produtos ativos cujo terreno de jogo oferece mais oportunidades táticas em 2023 do que no ano passado. A nossa exposição ao ouro completa o panorama positivo e diversificado da nossa atual alocação de ativos.

Escusado será dizer que estar numa encruzilhada não significa nada assumir o caminho do otimismo temerário, mas sim relativizar alguns dos receios que tínhamos no início do ano sobre a atividade económica e o rumo delicado que os bancos centrais estão a tomar. Assim, devemos manter-nos ágeis numa conjuntura que, no final de contas, é mais dinâmica do que esperávamos, e continuar a ter uma exposição à mesma de forma suficiente e diversificada.